Sobre a cobrança de ingressos.

Trecho do livro "O Avesso da Cena", de Romulo Avelar*:

"(...) reflexões de Márcio Meireles, ex-diretor do Teatro Vila Velha, de Salvador:
'Eu acho que a produção cultural, especialmente de teatro e dança, ignora completamente o público quando pensa no orçamento. Nós ignoramos a receita que vem dele e fazemos o espetáculo pensando que o patrocinador está pagando tudo. Porque é dinheiro público e porque o patrocinador quer ver gente na plateia, fazemos o ingresso baratíssimo ou de graça, ou chamamos as associações de idosos e de moradores, e as crianças carentes. Enchemos o teatro com essas pessoas, e é importante que elas venham, evidentemente. Mas e o público que paga? Ele agora está viciado e só vem ao teatro se for de graça ou muito barato.
Nós não vamos, é claro, abrir mão daquilo que a sociedade capitalista nos dá: essas leis de mercado, de incentivo fiscal. Só não podemos virar reféns dessa história. Eu estou falando disso todo dia agora, em todo lugar que eu vou. Como é que nós abrimos mão do público? É como se a padaria só fizesse pão se alguém financiasse.
Eu acho que nós, artistas e produtores, caímos nessa cilada neoliberal. Eu vejo as pessoas nubladas. Elas não percebem isso e só querem abrir a cortina com a produção zerada. É evidente que a bilheteria não cobre a produção teatral, em lugar nenhum do mundo. Tudo bem que contemos com o apoio do Estado, mas que não nos tornemos reféns disso.'
(...) Isso, por um lado, tem produzido resultados positivos, uma vez que facilita o acesso do cidadão culturalmente excluído aos projetos realizados. Por outro, no entanto, tem provocado certa desvalorização da própria produção." (página 156)

*AVELAR, Romulo. O Avesso da Cena: notas sobre produção e gestão cultural. - Belo Horizonte: DUO Editorial, 2008.

Texto sugerido pelo Edgard Assumpção para incrementar a discussão sobre cobrança de ingressos, iniciada na última reunião da ATINJ-PR.

Você que está lendo, já pensou sobre isso?

Comentários